quarta-feira, 29 de julho de 2015

E o primeiro post já saiu do forno: Cuca de Banana e Caramel au Beurre Salé

Nossa gente, confesso pra vocês que esquentei/defumei/torrei um pouco os miolos para definir qual receita eu ia fazer para o primeiro post do blog.

E pensei comigo mesma "...Alessandra, antes de tudo você precisa decidir sobre que tipo de confeitaria você vai escrever, não coloque a carroça na frente do burro...", e na real esse pensamento me deixou nervosa! De verdade.

Não quero me limitar. Nunca gostei. Dizem por aí que menos é mais, mas nesse caso específico, mais, com certeza, é mais! 
Eis que decidi que esse blog vai falar de confeitaria pura e dura (porque quem manda aqui sou eu! rsrs). E de todas suas formas de expressão: vegan, francesa, brazuca, raw, italiana, espanhola, gluten-free, latino-americana, gringa e a lista continua... Muito mais divertido asim, vocês não acham?

Muito bem,  decidido isso e com a carroça e o burro em seus devidos lugares, voltamos para o tema do post.

Depois de tostar os miolos, decidi qual receita fazer. E para ser sincera, o critério de escolha foi o seguinte: "...mmm, o que eu tenho vontade de cozinhar nesse exato momento?", e eureka! A resposta veio em alto e bom tom, "uma cuca bem fofinha!".

Simplesmente amo as cucas. Fui propriamente apresentada a esse doce na faculdade no módulo de Cozinha Brasileira, há 11 anos atrás (para os que estão se perguntando tenho orgulhosamente 30 anos, há!)
Nessa aula fizemos uma cuca de banana, com uma receita super tradicional feita com fermento biológico e banha de porco. A receita postada aqui, a banha foi substituída por manteiga, porque sou vegetariana e super contra o maltrato dos animais.

E muito que bem, comecei a pesquisar sobre a cuca. E descobri que eu não sou a única pirada, que pira nas cucas! Encontrei uma senhora chamada Lissi Bender Azambuja, doutorada em antropologia, que pira muito mais que eu, e que escreveu 2 (dois!!!) livros sobre a cuca, sua origem e receitas tradicionais.

Um pouquinho do que eu aprendi com ela: a cuca é originaria da Silésia, que hoje em dia é o território que compreende a Polônia, República Checa e Alemanha. Logo foi levada a Prússia, que teve forte colonização alemã. O termo cuca teve origem do alemão kuchen, que significa bolo. Mais bem conhecida como streuselkuchen (quando feita sem fruta) na terra do chucrute. Chegou em terras tupiniquins (mais exatamente no sul do país) em 1849, pelos imigrantes alemães. 

Na nossa pátria amada os imigrantes alemães tiveram que adaptar sua adorada streuselkuchen aos ingredientes brazucas. Começando pelo açúcar de cana e nossas frutas. E assim nasceu a cuca de banana, coco, doce de leite... Tradicionalmente na Alemanha, era feita com maçã, framboesa ou ameixa, sendo que o seu nome muda para obstkuchen (obst = fruta) quando se adiciona fruta a receita.

E um dado curioso, a cuca é tão famosa no Rio Grande do Sul, que lá existem as cuqueiras, pessoas que se dedicam exclusivamente à produção das cucas! Demais, né?

Bem, escolhi uma receita bem tradicional (afinal de contas, tradição é a base de tudo!), fiz algumas mudanças como trocar a banha pela manteiga, coloquei semente de abóbora na farofa para um crunch extra, e além de adicionar a banana, coloquei também o  caramel au beurre salé, super tradicional francês, que nada mais é um caramelo que se adiciona manteiga salgada. Amo caramel au beurre salé.  AMO. De verdade.

Eis a receita:

Esponja

130 gr farinha de trigo
13 gr fermento biológico
150 ml agua morna (que não passe de 30ºC, senão você tem grandes possibilidades de assassinar o fermento!)
16 gr açúcar mascavo

Massa

260 gr farinha de trigo
190 gr açúcar
2 ovos
130 gr manteiga em temperatura ambiente
q.b. leite
3-4 bananas
q.b. caramel au beurre salé

Farofa (Streusel/Crumble)

76 gr farinha de trigo
70 gr manteiga fria
67 gr açúcar
12 gr canela em pó
q.b. semente de abóbora

Caramel au beurre salé

75 gr açúcar 
q.b. água
37 gr manteiga com sal
20 gr creme de leite

Modo de preparo:

Esponja:  misture todo os ingredientes. Cubra com um pano e deixe em um lugar com calorzinho, e longe de correntes de vento. O forno é uma ótima opção: aqueça apenas o suficiente para que fique morno (entre 25 e 30ºC), ferva uma panela de água e coloque dentro forno. E assim você já tem calor e umedade, uns dos melhores amigos do fermento! :)  Espere que dobre de volume.

Massa: enquanto a esponja cresce, pese os ingredientes secos e a manteiga em um mesmo bowl. Quebre os ovos em outro bowl e bata levemente para que a clara e a gema se misturem. A esponja já dobrou de tamanho? Então mãos na massa! Junte a esponja ao bowl dos secos, adicione os ovos e comece a sovar. Dizem que a massa da cuca quanto mais se sova, melhor fica. Eu sovei a minha (no muque!) por 10 minutos aproximadamente. Ou até ela ficar lisinha. Se utilizar batedeira optar pelo gancho para sovar a massa. Adicione o leite apenas se necessário. A massa da cuca lembra uma massa de brioche, bem macia e brilhante <3. Coloque em um bowl limpo, untado com um pouquinho de óleo, cubra com um pano, e coloque para crescer no forno no mesmo esquema que antes. Espere que dobre de volume.

Enquanto isso prepare:

Farofa (Streusel/Crumble): junte todos os ingredientes em um bowl. É muito importante que a manteiga esteja fria, para que se forme a farofa. Com as mãos comece a misturar os ingredientes até formar uma farofa. Mais simples do que isso impossível! Se optar por utilizar a batedeira, utilize o globo para formar a farofa. Reserve na geladeira.

Caramel au beurre salé: em uma panela junte a água e o açúcar. Leve a fogo médio. Pese a manteiga e reserve. Esquente o creme de leite e reserve. Quando o açúcar atingir o ponto de caramelo, o que vamos fazer é adicionar pouco a pouco a manteiga, seguida pelo creme de leite. É muito importante que tanto como a manteiga como o creme de leite não estejam frios, pois isso causará que o caramelo salpique (e eu não quero de vocês se queimem), e também que ele endureça. Por isso é importante que não tenha choque termico entre eles! Misture bem até os 3 ingredientes de incorporarem bem. Reserve.

Montagem:

Sua massa de cuca já dobrou de tamanho? Sim? Muito bem, agora vamos montar a nossa cuca! Sove a massa para que a fermentação se abaixe, e disponha a massa em uma forma retangular (a minha foi de 18x20) untada e enfarinhada (tradicionalmente as cucas eram feitas em tabuleiros, mas hoje em dia tem gente que faz em forma redonda) acomodando a massa para que ela cubra todo o fundo da forma. Corte as bananas em rodelas e disponha sobre a massa. Em seguida, regue a massa com o caramelo. Volte para o forno morno e deixa que cresça novamente até que dobre de tamanho. Uma vez fermentada a massa, pegue a sua farofa e cubra a massa de forma homogênea. Pré aqueça o forno a 180ºC. Asse a cuca a 170ºC de 35 a 45 minutos, ou até que esteja dourada! Eu acompanhei a minha cuca com chai, um chá tipico indiano feito com chá preto, muitas especiarias e leite, uma delícia. Bom apetite! E, se você estiver com preguiça, não tem problema não! Aceitamos encomendas! :)